Farei duas postagens sobre este tema
Entrou
na igreja evangélica brasileira um modismo que não é novo. Algumas
pessoas acham que descobriram a roda em pleno século XXI. As
terminologias entraram e não foram questionadas, como se fossem verdades
fundamentais da Palavra de Deus. O erro maior está em os líderes
aceitarem sem questionar práticas e terminologias espúrias que são como
ervas daninhas que aos poucos deturpam o evangelho. Quando
líderes de expressão nacional aceitam chamar alguns de apóstolos, eles
validam tal terminologia e aceitam como verdade aquilo que é errado e
supérfluo. Tais líderes prestam um desserviço ao Reino de Deus. Dentre
estas terminologias reinantes está a de apóstolos. Homens sem o mínimo
necessário para desempenharem as funções pastorais, arrogam-se com
títulos inócuos. Pessoas sem o menor preparo para a vida são apóstolos
no século XXI. Precisamos lembrar que ser apóstolo hoje é impossível biblicamente.
Mas antes de analisarmos biblicamente esse erro grotesco, vamos
mergulhar um pouco na história recente da igreja. Tivemos em 1901 a
chegada massiva do Movimento Pentecostal, que já vinha
dando ar da sua graça a pelo menos 50 anos antes da virada do século XX.
Em 1914, no início da 1ª guerra mundial, nasce a Assembléia de Deus nos
Estados Unidos. Pessoas viveram experiências antes nunca vividas e a
igreja ganha em dinamismo. Achava-se que isso era tudo o que tinha para
acontecer dentro de séculos de cristianismo. Só que entre as décadas de
40 e 50 do século passado aparece um movimento que tenta restaurar a
igreja. Esse movimento foi chamado de Chuva Serôdia.
Para este movimento não bastava uma experiência ou revestimento com o
Espírito santo nos moldes pentecostais, deveria haver uma restauração da
Igreja para que houvesse um mover de Deus sobre a terra. Daí
enfatizarem a necessidade da restauração dos dons de Ef. 4:11. Deveria
haver restauração destes ministérios para que tudo fosse bem e viesse a
chuva serôdia, a última chuva e depois o fim. Desse movimento surge na
década de 70 outro chamado Discipulado. Na América Latina
seu grande expoente foi o Pr. Juan Carlos Ortiz, da Argentina. Pastores,
no Brasil, deixaram suas igrejas para entrar nesse movimento.
Acriticamente entraram de cabeça nesse ensino e tentaram mudar a
estrutura da igreja brasileira. Como sempre acontece a ação sem reflexão leva à paralisia da razão.
Na Inglaterra esse movimento instaurou a consagração de apóstolos,
seguindo indicação de Deus, segundo eles. Nos Estados Unidos um expoente
desse movimento apostólico foi Peter Wagner, ex-professor do Seminário
Fuller e com ele outros assumiram essa postura. Esse pequeno histórico
nos aponta que o atual movimento apostólico é bem recente, em termos de
história, e segue os mesmos pressupostos do movimento Chuva Serôdia,
a saber, sem uma restauração da igreja ela não crescerá ou se imporá no
mundo. Somente através dos apóstolos é que a igreja crescerá mais
rapidamente. Somente através de ministérios apostólicos a unção de Deus
estará presente e libertação acontecerá.
Creio que agora podemos analisar biblicamente este erro crasso que acontece na igreja contemporânea.
1
– Paulo aos Efésios descreve a construção da igreja. Enfatiza para os
novos crentes que eles eram família de Deus e que pertenciam a um novo
reino. Paulo usa a figura de um edifício para descrever a igreja e diz
que o alicerce desse edifício são os apóstolos e profetas, tendo Cristo
como a pedra angular.
Podemos
tirar daqui nosso primeiro pressuposto. Apóstolos e profetas são
alicerce e alicerce não se lança duas vezes. Uma vez colocado, todo o
edifício é edificado sobre ele. Durante séculos Deus está construindo
seu templo santo, a igreja e os fundamentos já foram lançados uma única
vez. Termos apóstolos no sec. XXI é lançar o alicerce outra vez, o que
seria impossível ou mesmo desnecessário. Ninguém lança os alicerces de
um edifício uma vez e depois o repete no 5º andar. Poderíamos perguntar
como a igreja é edificada sobre o fundamento de apóstolos e profetas?
Ela é edificada quando, nós pastores e líderes, pregamos sobre o que os
apóstolos e profetas escreveram. Estamos assim estamos edificando sobre o
fundamento deles. Quando o Canon (livros inspirados) do Novo Testamento
foi fechado nenhuma revelação tornou-se possível, pois, os apóstolos e
profetas de Ef. 2:20 tinham autoridade de revelação final de Deus e já
não existiam mais.
2
– O segundo pressuposto que podemos tirar daqui é que se existissem
apóstolos no sec. XXI, com a mesma autoridade dos primeiros, então nossa
Bíblia estaria ainda em construção/formação, pois, tais supostos
apóstolos deteriam autoridade revelativa de Deus. Suas palavras deveriam
ser gravadas e preservadas porque alguma delas Deus usaria para ser
Canon para nós. A Bíblia ainda estaria sendo escrita, em formação.
Isso seriam uma impossibilidade e um erro infantil. Em 2001 ocorreu em
Belo Horizonte uma conferência profética onde apóstolos foram
consagrados por outros supostos apóstolos. Não expresso aqui as palavras exatas, mas creio que não estou longe da verdade, pois, escrevo de memória.
Na mesma conferência, a apóstola Valnice Milhomens afirmou que a
idolatria entrou no Brasil quando os portugueses fincaram a cruz em
terras brasileiras e realizaram a missa inicial. Em seguida o apóstolo
Mike Shea afirmou que apesar dos portugueses terem trazido a igreja
Católica para cá, ao fincarem a cruz em terras brasileiras o pais foi
abençoado, pois, a cruz simbolizava o cristianismo. Fiquei a me
perguntar: Como pode em uma mesma conferência profética uma apóstola
afirmar coisas contraditórias em relação a outro apostolo que pertence à
mesma coligação apostólica que a sua? Podemos concluir que esses supostos apóstolos do sec. XXI não existem.
A Bíblia descreve quais eram as características dos verdadeiros apóstolos.
1 – Segundo Atos 1:15-26 para
se ser apóstolo deveria ser alguém que houvesse acompanhado o Senhor
Jesus durante todo seu ministério. Em outras palavras, tinha de ser uma
testemunha ocular da ressurreição de Cristo. Por
isso Paulo explica amplamente em suas cartas porque era apóstolo. Paulo
recebera uma revelação especial de Cristo, daí ele afirmar que ele era
como um abortivo, fora do tempo. Paulo era questionado por não ter
estado com Cristo, por isso, ele quase sempre inicia suas cartas com
afirmativa: “Paulo apóstolo de Jesus Cristo...” Isso por si só anula toda pretensão da existência de apóstolos no sec. XXI.
Nenhum dos apóstolos atuais andou com Jesus. O teólogo católico Hans
Kung afirma categoricamente que é impossível estabelecer sucessão
apostólica para o estabelecimento de outros apostolos ou bispos hoje em
dia, como quer a igreja Católica Romana. Afirmação de um teólogo de
dentro desta instituição, não é afirmação de um teólogo evangélico.
CONTINUA...
Soli Deo Gloria
Pr. Luiz Fernando R. de Souza