INTRODUÇÃO
Dentro da teologia de Paulo a encarnação de Cristo inaugurou
uma nova era ao mesmo tempo que encerrou outra.
Cristo, para Paulo, era o inaugurador de um tempo onde a
igreja deveria viver e experimentar um andar no Espírito.
Por isso, diante do que Paulo expõe em suas cartas é de se
estranhar o modo como a igreja vive em nossos dias.
Vamos olhar alguns apontamentos sobre este novo tempo
introduzido por Cristo e a novidade de vida relacionado com este tempo.
I – UM NOVO TEMPO
a) A Plenitude do
Tempo
Gal.
4:4 “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus
enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”.
Ef. 1:9-10 “Descobrindo-nos
o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si
mesmo, De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da
plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra”.
Com “plenitude do tempo” não está se falando, apenas, da
maturação de uma determinada questão dentro da grande estrutura da história da
redenção, mas o cumprimento do tempo num sentido absoluto. O tempo do mundo
chegou a uma conclusão com o advento de Cristo. Independentemente de quanto
esse tempo ainda exista temporalmente, ou seja, o quanto o perfeito ainda
aguarda o futuro, o pleroma dos tempos é tratado aqui como um
acontecimento já ocorrido e assim, em principio, já resolvido.
Esse início de um grande tempo de salvação é afirmado com clareza em II
Cor. 6:2 “porque diz: No tempo aceitável te
escutei e no dia da salvação te socorri; eis aqui agora o tempo aceitável, eis
aqui agora o dia da salvação”.
Aqui deve-se entender que as expressões: “tempo sobre-modo oportuno” e
“dia da salvação” não são, simplesmente, um determinado acontecimento salvador
ou uma oportunidade que deve ser usada e que, talvez, venha a desaparecer
novamente.
Não deseja comunicar outra coisa senão que a vinda decisiva e há muito
esperada de Deus finalmente raiou, a hora das horas, o dia da salvação no
sentido realizador e escatológico da palavra.
Essa intenção fica clara quando Paulo escreve da seguinte maneira a
partir do contexto anterior sobre a grande mudança que chegou com a morte e
ressurreição de Cristo: “Pelo que, se
alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que
tudo se fez novo”. II Cor. 5:17.
Quando se fala aqui de “coisas novas” a intenção não é
transmitir apenas um sentido individual (“uma nova criatura”), mas deve-se
pensar, sim, no novo mundo da recriação que Deus fez irromper em Cristo e no
qual estão incluídos todos os que estão em Cristo.
Observe os termos: “As coisas antigas já passaram; eis que se fizeram
novas” e do significado pleno que deve ser atribuído aqui a “novo” e “velho”.
Trata-se de dois mundos, não apenas num sentido espiritual, mas também
histórico-redentor. As “coisas antigas” representam o mundo que não foi
redimido e que se encontra em sofrimento e pecado; as “novas” são o tempo da
salvação e a recriação que se iniciaram com a ressurreição de Cristo. Aquele
que está em Cristo, portanto, é nova criação; ele participa desse novo mundo de
Deus e pertence a ele.
Vamos observar um termo predileto utilizado por Paulo chamado mistério.
Rm. 16:25-26
“Ora, àquele que é poderoso para vos
confirmar, segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a
revelação do mistério guardado em silêncio desde os tempos eternos,
mas
agora manifesto e, por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do
Deus, eterno, dado a conhecer a todas as nações para obediência da fé”.
Col. 1:26
“o mistério que esteve oculto dos
séculos, e das gerações; mas agora foi manifesto aos seus santos”.
Col. 2:2, 3
“para que os seus corações sejam
animados, estando unidos em amor, e enriquecidos da plenitude do entendimento para
o pleno conhecimento do mistério de Deus-Cristo, no
qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.”
Ef. 1:9-10
“fazendo-nos conhecer o mistério da
sua vontade, segundo o seu beneplácito, que nele propôs para a dispensação da
plenitude dos tempos, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as
que estão nos céus como as que estão na terra,”.
II Tm. 1:9-10
“que nos salvou, e chamou com uma
santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito
e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos,
e que agora se manifestou pelo aparecimento de
nosso Salvador Cristo Jesus, o qual destruiu a morte, e trouxe à luz a vida e a
imortalidade pelo evangelho,”.
Tt. 1:2-3
“na esperança da vida eterna, a qual
Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos eternos,
e no tempo próprio manifestou a sua palavra,
mediante a pregação que me foi confiada segundo o mandamento de Deus, nosso
Salvador;”.
Aqui o termo mistério deve ser bem entendido. No grego clássico
significava algo que não permaneceria oculto para sempre, mas que havia sido
revelado. Destaco o verbo revelar que não significa apenas divulgação de uma
verdade ou informação sobre determinados assuntos ou acontecimentos, mas o
próprio aparecimento, o ato de tornar realidade histórica o que não existia
como tal, mas que era mantido por Deus, oculto e retido. Como tal, a saber,
como o plano redentor de Deus realizado.
Aqui o que foi revelado não foi o conhecimento do plano redentor de
Deus, como conhecimento oculto, mas o próprio ato ou acontecimento histórico,
na história, ou seja, a cruz do Calvário.
Isso aponta para o cumprimento de um tempo escatológico tendo em vista
a plenitude dos tempos.
Os termos “estivera oculto” “outrora oculta” contrasta
como o novo, o agora da revelação, o fim das gerações de espera, a intervenção
final de Deus de acordo com seu plano e promessa.
A revelação do mistério é o verdadeiro conteúdo do evangelho (Rm.
16:26). Assim a própria pregação de Paulo é de cunho escatológico, ou seja,
traz o tempo de salvação para seus ouvintes, ou seja, é a anunciação, a
proclamação da vinda da salvação.
Aquilo que o Senhor Jesus Cristo proclamou dizendo, “o tempo está
cumprido” (Mc. 1:15) é idêntico ao que Paulo chama de “plenitude do
tempo”.
É a bem-aventurança que Jesus declara para seus discípulos em Mt.
13:11,17.
“Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós e
dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado;
Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o
que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram”.
Tanto para Paulo como para os demais discípulos, o advento de Cristo,
seu aparecimento, morte e ressurreição, bem como os dons do Espírito Santo
eram, acima de tudo, o cumprimento da promessa, o início da consumação da
história da redenção.
Foi assim que Pedro explicou tudo isso de uma só vez no Pentecostes à
luz da profecia de Joel (At. 2:17) e era assim que a igreja vivia consciente de
que havia presenciado o raiar do dia da salvação e que era o povo de Deus do
grande fim dos tempos. Por isso a igreja primitiva vivia na expectativa do
retorno imediato de Cristo naqueles dias.
II – O MISTÉRIO DE CRISTO. ESCATOLOGIA E CRISTOLOGIA.
A pregação de Paulo é definida e explicada pelo advento e revelação de
Jesus Cristo. A “escatologia” de Paulo é “Cristo-escatologia” e
“a abordagem paulina da história é fé em Cristo”.
Paulo via a história somente em relação a Cristo. Não via a história
como somente a construção das sociedades humanas pelos homens, mas, a história
adquiria significado dentro da obra redentora de Cristo que inaugurava um novo
tempo. Toda a história é o palco da atuação de Deus para a realização de Sua
salvação.
A pregação de Paulo é melhor definida por aquilo que ocorreu em Cristo,
pelos atos de Deus que Cristo carregou em si para a realização do plano
redentor e dos quais a morte e a ressurreição de Cristo constituem o centro de
controle total.
A cristologia de Paulo é uma cristologia de fatos redentores.
Essa abordagem de Paulo sobre Cristo o coloca dentro de uma relação
orgânica com a revelação do A. Testamento. O que aconteceu em Cristo constitui
o término e o cumprimento da grande série de atos redentores divinos na
história de Israel. Ou seja, o que aconteceu em Cristo deve ser entendido como
o cumprimento das promessas de Deus a Israel.
Quando olhamos a obra de Cristo em termos do homem como indivíduo
erramos em nossa avaliação. Precisamos olhar a obra de Cristo em termos
histórico-redentor-escatológico, para compreendermos que Deus opera para a
salvação tanto da criação física quanto humana.
Cristo é o cumprimento da promessa feita a Abraão (Gl. 3:8, 16,19), Ele
o portador escatológico que traz a salvação. Ele o cumprimento do plano
redentor de Deus para o mundo todo e seu futuro.
O tempo passado, antes de Cristo, não deve ser visto como tempos de
escuridão e ignorância, mas como tempo de preparação para a obra de Deus ao
longo dos séculos.
Para Paulo o cumprimento das profecias e a plenitude dos tempos
convivem com o presente tempo do mundo. É o já e o ainda não da teologia.
Existe ai uma tensão.
III – EM CRISTO, COM CRISTO. O VELHO E O NOVO HOMEM.
Quando Paulo utiliza a expressão “em Cristo”, ele está enfatizando uma
unidade corporativa entre Cristo e os seus.
Em II Cor. 5:17 “Assim que, se alguém está em Cristo, nova
criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.
Paulo nos dá uma mostra do que essa expressão quer dizer. Tudo aquilo
que aconteceu em Cristo, devido essa unidade orgânica com os seus, aconteceu a
nós também. Vamos ler algumas passagens de Paulo: Rm.6:3ss; Gl.2:19; Cl. 2:12,
13, 20; 3:1,3).
Em II Cor. 5:14-17 esclarece de modo significativo e torna perceptível
uma transição clara do “Cristo por nós” para o ”nós em Cristo”
SOLI DEO GLRIA NUNC ET SEMPER
Pr. Luiz Fernando R. de Souza
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