Como membro de uma igreja batista nacional e pastor há mais de três décadas presenciei bons e maus momentos dentro da Convenção Batista Nacional (CBN). Experimentei parte do auge do movimento de renovação espiritual e vivi com os expoentes da denominação, o que trouxe crescimento para minha pessoa. Ao completarmos cinquenta anos de existência não poderia deixar de me manifestar diante desta data e momento.
Acredito que poderíamos ter escrito uma história bem diferente
da que escrevemos e vivenciamos.
Tudo conspirava para que a trajetória da CBN fosse um marco diferencial no meio evangélico brasileiro.
Tudo conspirava para que a trajetória da CBN fosse um marco diferencial no meio evangélico brasileiro.
A experiência de renovação espiritual, que não era nova,
mas se manifestava nova entre os Batistas Brasileiros e outras denominações
históricas, era um grande diferencial e motivador para que as igrejas fossem
aquecidas pelo Espírito Santo, juntamente com a preservação dos referenciais
históricos e teológicos. Mas na realidade isso não aconteceu em sua totalidade.
A experiência carismática aos poucos sobrepujou os referenciais históricos e
teológicos e devido ao rápido crescimento da CBN somente foi observado o
momento e não houve uma projeção quanto ao futuro da denominação.
Gostaria de ponderar sobre estes fatos:
1 – Depois de cinquenta anos de vida a Pneumatologia da
CBN ainda é algo difuso e inconcluso. Nos primeiros momentos fomos beber no
referencial experimental e teológico dos pentecostais, pois acredito que eram a
fonte mais próxima e de melhor acesso. Só que o abeberar-se dessa fonte trouxe
consigo os trejeitos dos pentecostais e com o tempo a eclesiologia e Pneumatologia
sofreram mudanças em sua forma de ser.
Até hoje, nossas definições pneumatológicas passam pelo viés
pentecostal deixando a denominação à deriva nesta área. Consequentemente distorções
teológicas se apresentaram e trouxeram empobrecimento para denominação. No dia-a-dia
de muitas igrejas não se consegue fazer diferenciações entre pentecostais,neopentecostais e batistas nacionais.
Até o presente momento não conseguimos gerar uma Pneumatologia
que expressasse aquilo que experimentamos a cinquenta anos. O aprofundamento
teológico, nesta área, parece que nunca foi buscado porque houve acomodação com
aquilo que havia sido conquistado. Muitas experiências vividas nas igrejas
foram tidas como oriundas do Espírito Santo, mas eram antagônicas à Palavra e
nada foi feito para reverter o quadro. Isso trouxe um modus operandi acéfalo que
levou a lugar algum.
Realmente na Pneumatologia poderíamos ter escrito uma
outra história.
2 – Depois de cinquenta anos a Eclesiologia da CBN
(igrejas várias) não se enquadrou no padrão neotestamentário. Para um grande
percentual de igrejas a Eclesiologia pode ser tirada de qualquer lugar. Práticas
esdrúxulas entraram e viraram normas em nossas igrejas. Cito a aceitação tácita
do judaísmo pobre e empobrecedor que adentrou várias igrejas e símbolos judaicos
estão presentes nos altares, paredes e púlpitos, como se Deus possuísse hoje
dois povos, a igreja e Israel. Pastores usando o Quipar para serem diferentes
ou para aparentar mais espiritualidade ou qualquer outra coisa. Não e incomum
tocar o Shofar nas igrejas para um certo tipo de despertamento ou até atrair a
presença de Deus ou mesmo demonstrar espiritualidade ou atrair o sobrenatural. Estamos
“tentando
costurar o véu que já foi rasgado”.
A introdução de coreografias no culto trouxe
sensualidade, carnalidade e mundanidade para dentro das igrejas. Elas nada significam
ou alteram o teor do culto ou seu objetivo. Não acrescentam espiritualidade nem
dinâmica alguma, mas chegaram para ficar e aí estão.
E o que dizer da esquizofrenia cúltica que é praticada em
centenas de igrejas? Quantas reuniões o povo é levado aos extremos das
sensações e esta esquizofrenia cúltica se torna o ponto alto dos cultos.
Há pouco tempo um colega pastor me questionou o porquê de
eu haver escrito em meu blog que a eclesiologia batista deve ser tirada do Novo
Testamento e que isto era um princípio distintivo dos batistas. Ele disse que
já era pastor da CBN há mais de 15 anos e que nunca tinha lido algo parecido.
Pediu-me fontes bibliográficas.
E o que falar da consagração de apóstolos em nosso meio? Da unção com óleo quando da consagração de alguém ao ministério pastoral? Da consagração em massa de pastores sem o menor preparo?
E o que falar da consagração de apóstolos em nosso meio? Da unção com óleo quando da consagração de alguém ao ministério pastoral? Da consagração em massa de pastores sem o menor preparo?
Realmente na Eclesiologia poderíamos ter escrito uma
outra história.
3 – Depois de cinquenta anos teologicamente a CBN virou
uma colcha de retalhos.
Não existe consistência alguma em termos teológicos e
doutrinários. Acredita-se que a pluralidade teológica seja algo bom e
distintivo. Só que essa pluralidade tem roubado o nexo histórico e teológico dentro
da CBN. Não se sabe se a CBN é continuísta ou não.
Para vários pastores Cristo poderia ter pecado e
consequentemente derrubado os decretos soteriológicos da Trindade. Para muitos
a doutrina da Eleição é abominação.
Para um percentual muito grande de igrejas são verdadeiros
os fatos das maldições hereditárias, de bênçãos e maldições, de cura interior
etc., outros ainda acreditam que há poder em suas palavras. E o que
dizer das campanhas de libertação onde são praticados rituais para terminar a
libertação iniciada no Calvário? Na Soteriologia padecemos de grave
enfermidade.
O que dizer das profecias absurdas que tentam controlar
as vidas das pessoas, profecias megalomaníacas que prometem os céus na terra? O
que dizer dos jargões infantis como: “Eu profetizo em sua vida.... O melhor
está por vir…”
Deixei por último para mencionar o desastre da aceitação
acrítica dos processos do G12. Depois de mais de 15 anos dessa experiência o
que sobrou? Igrejas esfaceladas, pastores disfuncionais, ensinamentos erráticos
e doentios e perda de grande parte da identidade da CBN. Tudo em nome de um
pluralismo inócuo.
Realmente na Teologia poderíamos ter escrito uma outra
história.
4 – Depois de cinquenta anos podemos nos alegrar porque a
CBN ainda existe. Podemos nos alegrar porque a CBN ainda cresce e de algum modo
tem levado a mensagem de salvação não somente dentro do Brasil, mas fora
também. Contamos com milhares de pastores e igrejas com um enorme potencial. Vários centros acadêmicos, editora e uma boa estrutura para missões. Isso aponta que temos um futuro e esse futuro poderá ser escrito de
forma diferente. Creio que é o momento de ponderarmos sobre o legado que será
deixado para as próximas gerações de batistas nacionais.
Algumas coisas, a meu ver, podem ser feitas:
a) Olharmos nossa história e vermos onde erramos para
corrigir radicalmente.
b) Preocuparmo-nos com a formação de pastores Batistas
Nacionais, ou seja, precisamos forjar pastores denominacionais com um alto
padrão cultural e espiritual, além de uma forte ênfase Batista que suporte os
reveses do tempo.
c) Encontrar o equilíbrio na Pneumatologia rapidamente. Corrigir
as distorções existente sem perdermos o fervor espiritual, missionário e teológico.
d) Dinamizarmos e atualizarmos a estrutura denominacional
introduzindo mecanismos digitais e virtuais para melhor integração entre as
igrejas e pastores.
e) Promover um nivelamento teológico a nível nacional
entre os pastores para que falemos a mesma língua em toda nação.
f) Promover uma forte ênfase em evangelismo e missões
visando a divulgação consistente do Evangelho pelo território nacional e fora
dele.
g) Incentivarmos nossos jovens a buscarem graus maiores
de conhecimento (Mestrado – Doutorados – Pós Doutorado) para se tornarem
formadores de opiniões e tendências nas universidades deste país.
Poderia escrever um pouco mais, mas deixo estes rabiscos
como preambulo para outrem.
Sim, existe um futuro para CBN e nós somos este futuro. O
que plantarmos agora será colhido amanhã.
Que Deus nos ajude.
SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER
Pr. Luiz Fernando R.
de Souza
Muito oportuna a sua analise Pr, sou membro de uma Igreja Batista Nacional a quinze anos e concordo com quase todas as observações feitas.É muito triste vermos o caminho que nossa querida denominação esta tomando, precisamos voltar a escritura, precisamos nos libertar do pragmatismo, precisamos de mais Teologia bíblica / Reformada,que Deus nos ampare!
ResponderExcluirMeu irmão Renan, a tendência da CBN é sempre pensar dentro da caixa. Qualquer coisa em contrário é repudiada fortemente. O continuísmo desastroso impera. Creio que muita coisa não possa ser feita diante deste quadro. Obrigado pela visita.
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