Nunca
houve na história da igreja um movimento migratório tão intenso como o que
ocorre em nossos dias. Hoje praticamente é impossível manter um rol de membros
de qualquer igreja atualizado ou minimamente ajustado. Antigamente a migração
se dava por motivos praticamente inexistentes hoje. Um membro trocava de igreja
por causa de seu trabalho que o obrigava a deslocar-se de cidade ou
porque um filho ia para uma faculdade e os pais, quando podiam, mudavam
juntamente com ele. Basicamente o trabalho era o motivo principal. Mas agora
vemos raramente alguém apresentar este motivo como causa de troca de igreja.
Vivenciamos algo totalmente novo no meio cristão. Algo altamente destruidor,
inibidor e falacioso. Penso que alguns fatores ajudam aumentar esta migração em
forma exponencial.
1.
A Mobilidade Social
A
mudança de patamar de vida leva o indivíduo mudar sua escala de valores e então
sua comunidade local não consegue entender ou acompanhar esta mudança e ai tal
pessoa busca aquela igreja que preencha suas necessidades. Essa mobilidade
social se dá principalmente através de conquistas na área educacional,
financeira e mesmo a social. Um upgrade cultural pode deslocar completamente um
indivíduo de seu meio por perceber que as bases mentais foram alteradas,
criando assim um abismo cultural entre tal indivíduo e sua comunidade de fé.
Novos interesses e necessidades são gerados ai a busca por algo mais elaborado
se apresenta. A mudança é praticamente automática e irreversível.
2. Busca Por Pertencer a Uma Estrutura Grande
Muitos
acham que se pertencerem a uma grande estrutura tanto física como populacional
também se tornarão grandes. Ficam encantados com grandes edifícios e multidões.
Julgam que este meio lhes proporcionará certo grau de realização pessoal.
Julgam que todo o movimento proporcionado por grandes estruturas será
suficiente para gerar uma melhoria interna e a transformação que tanto anseia.
Esquecem-se que nestes movimentos de massa com grandes estruturas a tônica
presente é a desumanização e massificação do individuo. Tornam-se números e
nada mais. Os cultos tornam-se impessoais e a tendência é que guetos sejam
formados para que a sobrevivência aconteça.
As
estruturas são grandes de verdade mais o indivíduo se apequena cada vez mais.
Assim neste meio que a princípio tudo é atrativo e luminoso a frustração se
apresenta porque fica evidente que pequenos grupos próximos às lideranças significativas recebem
as benesses e a maioria é alijada do processo. Isso é fator de migração no meio
cristão.
3. Promessas
Não Cumpridas
As
pesquisas recentes apontam como um fator preponderante para a migração as
promessas de prosperidade oferecidas pelas igrejas de massa e que nunca foram
e nem serão cumpridas. O indivíduo atraído por promessas miraculosas de
prosperidade e cura ou mesmo de encontrar o amor de sua vida, entram para tais
igrejas e ali confiando no que é dito passam a ofertar quantias significativas
de dinheiro na esperança de verem seus sonhos realizados. Durante algum tempo a
pessoa é iludida e tem sua esperança renovada por pronunciamentos
encorajadores, mas rapidamente percebe que as coisas não mudaram e sim pioraram.
Veem seus líderes enriquecerem e apresentarem um padrão muito acima do normal e
eles acomodam na condição de fontes de financiamento de tal sistema. A
frustração é algo inevitável nestes ambientes e consequentemente a migração é
seu corolário.
4. Busca Por Revelação e Poder de Deus
É
incrível como as pessoas se recusam a crescer diante de Deus. Aprendem alguma
coisa da Palavra sobre Deus e seu poder e depois iniciam uma busca frenética
por ambiências que proporcionem o que esperam. Passam a julgar se um culto é
espiritual ou não através de manifestações diferentes ou pela intensidade de
revelações espirituais. Acham que pessoas específicas detêm poderes
diferenciados cura, libertação e revelação e ai enchem auditórios e levam
consigo uma avidez surpreendente. Chegam a acreditar, mesmo contra todo bom
senso e a Palavra de Deus, que uma rosa ungida, uma toalha suada de um apóstolo
ou um cajado cheio de um óleo qualquer terão poder de mudar toda uma existência
conturbada e desequilibrada. Em muitas ambiências é incentivada a expulsão de
demônios para provar que o pregador tem poder sobre o mundo espiritual. O
pregado tornar-se One Man Show. Tais
pessoas quando entram em uma igreja que não reza pela mesma cartilha em que
foram educados ou doutrinados, dizem que ali não existe o poder de Deus ou os
cultos são frios. Não conseguem mais se alegrar quando um pecador se arrepende
e é alcançado pela graça de Deus.
Quando
acontece de alguma luz brilhar na mente daqueles que buscam poder e revelações,
então migram frustrados para outras comunidades buscando recomposição espiritual
e pessoal.
5. Escândalos Sexuais e Financeiros
Nesses
movimentos de massa a grande característica é o isolamento da liderança. Isso é
algo altamente prejudicial, pois tais líderes passam a ser suas próprias
referências. Começam ver outros famosos fazerem coisas estranhas e sem crítica
alguma introduzem as mesmas coisas em suas comunidades levando seu povo ao um
desequilíbrio quase que irrecuperável. Buscam referencia em líderes com
comportamentos extravagantes e acham isto normal. Acolhem e praticam tais
comportamentos, pois querem a mesma visibilidade que os outros têm. Além disso,
muitos se julgam acima do bem e do mal. Acham que são especiais para Deus e
alguns pecados serão relevados pelo Criador. Aventuram-se a cruzar as linhas
dos limites estabelecidos pela Palavra, achando que somente desta vez não terá
problema. Mas esquecem de que Satanás é o primeiro incentivar e o último a
esconder. Quando o pecado é praticado o primeiro a puxar a cortina e mostrar a
nudez do líder é o próprio Diabo.
Os
escândalos aparecem e quem tem um pouco de equilíbrio nestes meios de massa
vêm–se desprotegidos, traídos e totalmente frustrados. A migração torna-se a
única opção para tais pessoas.
Poderia
escrever mais sobre os fatores da migração, mas quero falar um pouco sobre suas
consequências.
As consequências da migração são funestas em muitos casos.
1. Aqueles que se veem
frustrados nestas igrejas, de massa ou não, buscam outras igrejas, grandes ou
não, mas chegam tão decepcionados que se tornam membros inúteis. Julgam que
todos os líderes são iguais e possuem os mesmos interesses e visão do Reino de
Deus. Posicionam-se friamente fora da vida de sua nova comunidade achando,
muitas vezes, que logo, logo aqueles que estão na igreja vivenciarão o que eles
viveram no passado. Fecham-se por completo para sua nova ambiência e se recusam
a ser produtivos novamente.
2. Não conseguem superar
os traumas do passado. Não conseguem virar a página de sua história de vida e
vivem num processo autofágico de repaginação da vida. A igreja onde sou pastor,
por excelência, tem recebido em sua membresia pessoas frustradas com o sistema.
Tenho dito para tais irmãos que eles podem vivenciar uma grande chance de
mudança e visão de vida, mas que certamente nunca conseguirão doar para a
igreja nem 10% do que fizeram em sua antiga comunidade de fé. E para minha
tristeza tenho visto que este meu modo de pensar é uma máxima com raríssimas
exceções. Alguns depois de meses conseguem se desvencilhar das malhas das
decepções, frustração e traição sofridas e se abrem novamente para graça de
Deus, experimentando um novo momento de vida, mas são poucos.
3. Tornam-se juízes de
tudo e todos. Passam a criticar tudo e todos como se tivessem alcançado um
patamar superior de vida. Muitas vezes demostram desprezo para uma nova
comunidade porque viveram algo desastroso no passado e sentem medo de viverem
novamente, tornando-se assim em juízes. Normalmente agem com desconfiança em
sua nova comunidade de fé. Parecem que pisam em ovos. Sentam-se nos bancos de
trás da igreja. Não se incomodam em dizimar, mas não querem ser incomodados com
nenhuma nova demanda em suas vidas. Preferem o anonimato. São pessoas
talentosas, com grandes capacidades, mas que simplesmente abdicaram de tudo
isso por causa das frustrações vividas no passado.
4. Essa migração
desordenada traz consigo uma diluição de doutrina nas igrejas locais. Essa migração
proporciona todo tipo de conceitos dentro das igrejas. Várias pessoas veem de
igrejas diferentes e trazem consigo doutrinas diferentes que julgam verdadeiras
e não estão dispostas a repensar tais ensinamentos e consequentemente
comportamentos apreendidos. Creio que uma possível solução seria a criação de
uma classe de nivelamento para receber esses novos irmãos advindos de várias
denominações. Assim, seriam instruídos sobre o viver de sua nova comunidade de
fé e suas crenças e valores. Consequentemente a aceitação de tais irmãos se
daria no longo prazo. Creio que um ano no mínimo.
De
fato a migração no meio cristão, sem motivos sérios, tem levado a um retrocesso
na vida da igreja. Com tal processo a igreja vive algo como em corrida de carros
“Stop and Go”. Para e avança, para e avança. É um fenômeno que teremos de
conviver com ele ao longo da vida e creio que no curto prazo não teremos
solução para ele.
Resta-nos lutar para que Deus nos conceda graça e que possamos ajudar tais irmãos a se recuperarem de seus traumas e a viverem novamente a benção do convívio eclesiástico sadio.
Resta-nos lutar para que Deus nos conceda graça e que possamos ajudar tais irmãos a se recuperarem de seus traumas e a viverem novamente a benção do convívio eclesiástico sadio.
Soli Deo
Glória
Pr. Luiz Fernando R. de Souza
Olá, Pr. Luiz Fernando.
ResponderExcluirPontuais, honestas, e preciosas e precisas as palavras que disse em seu artigo. Não tenho visto outra coisa, além daquilo que o sr. afirmou, em relação a essa nova corrente migratória de (in)fiéis, e corroboro seu ponto de vista.
Um abraço,
Hermes
Irmão Hermes,
Excluirpena que virou tendência e isso não se reverte no curto prazo. Infelizmente a igreja vem a reboque do mundo, copiando exatamente tudo de negativo existente. Mas ela é de Cristo e o seu Senhor a levará bom termo.
Um abraço
Em Cristo
Pr. Luiz Fernando
Gostei do seu artigo. Penso que parte da responsabilidade desse processo migratório se deve ás nossas lideranças que teem sido uma lástima. Pessoas(líderes, pastores) que só olham os fiéis como números e não como pessoas, preocupados por demais com suas posições ocupadas com seus cargos convencionais e que por isto não teem como cuidar do rebanho que foi lhe confiado , assim sendo as ovelhas saem a pricura de PASTORES.
ResponderExcluirVerdade Pr. Gessi. Muitas vezes o ministério pastoral tem se profissionalizado e perdido seu objetivo para muitos. Precisamos focar naquilo para o que fomos chamados.
ExcluirObrigado por sua visita.
Um abraço
Em Cristo
Pr. Luiz Fernando
Tristes verdades ditas no texto.
ResponderExcluirAndréia
Irmã Andréia,
Excluirinfelizmente é isso mesmo. No presente pouca coisa pode ser feita para reverter este terrível quadro.
Um abraço
Em Cristo
Pr. Luiz Fernando
Estou enquadrado nas 2 primeiras 'consequências'...triste de mim e desobediente que sou, muitas vezes, me sinto distante de Deus por isso. Minha fé nEle e em Jesus, em sua ação redentora/salvífica, cresce a cada dia, mas antagonicamente/contraditoriamente, não consigo me re-encaixar em uma igreja.
ResponderExcluirTenho pedido a Deus, que através de sua misericórdia e pela sua graça, me dê uma direção.
É preciso tomar uma decisão urgente. Muitas vezes passamos a acreditar naquilo que afirmamos ou pensamos ao invés de mudarmos de postura.
ExcluirA hora é esta.
Deus o abençoe
Pr. Luiz Fernando
Muito bom pastor. Falou tudo. As igrejas passaram a ser vistas como prestadoras de serviços espirituais, e os membros passaram a ser os consumidores no mercado da fé. A moeda virou o dinheiro no lugar da entrega dos nossos desejos ao senhorio de Cristo. Não poderíamos esperar algo muito diferente do que temos visto. Parabéns! Abraço!
ResponderExcluirIrmão Fábio,
Excluirsuas colocações são precisas e verdadeiras. Precisamos de um grande arrependimento diante do criador.
Um forte abraço
Em Cristo
Pr. Luiz Fernando
Graça e Paz Pastor. Parabéns pelo artigo e também pela excelente ministração nesta terça 09/07 na reunião da Ormiban. Já fazia um tempo que eu não me sentia alimentado em nossas reuniões da Ordem. Que as próximas reuniões sejam assim. Deus te abençoe!
ResponderExcluirPr. Wanderson Alvez
Ig. B. Central
Conj. Cristina - Santa Luzia