20 agosto 2021

DEUS PAI ABANDONOU JESUS CRISTO?

 


DEUS ABANDONOU JESUS NA CRUZ?

E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Mc. 15:34.

A expressão *“Meu Deus, Meu Deus, por que me desamparaste”* é classicamente abordada em sermões antes da semana santa como as Sete Palavras da Cruz. Vale lembrar que quando Cristo nasceu em plena noite luzes irradiaram, como se a natureza se exultasse e alegrasse com a chegada do Emanuel, mas na cruz a natureza se envergonhou quando foi executado.

O grande reformador Martinho Lutero disse sobre esta passagem: *“Deus abandonou Deus. Não consigo entender isto!”.* Creio que nós não iríamos mais longe do que Lutero, mas nos irmanaríamos com ele e diríamos: nós também não.

No Getsemani Cristo pediu ao Pai que passasse dele o cálice, mas se não, ele o beberia. O que fez Cristo suar gotas de sangue não foi a eminência da cruz, mas sim o *“Eloí, Eloí, lamá sabactâni?”*. Para quem havia vivido em plena intimidade com o Pai vislumbrar a possibilidade de ter e ver Seu rosto virado para o lado, era a maior angustia que um ser poderia experimentar.

Na cruz o Senhor Jesus estava recebendo sobre si todos os pecados de toda a humanidade passada, presente e futura e era aceito pelo Pai como nosso vicário. A grande implicação disso era que o Pai, em sua natureza ser santa em sua totalidade, não contemplaria o pecado imputado ao Seu Filho. Jesus foi desamparado para que nós nunca nos víssemos desamparados. Suportou a ira de Deus para que nós desfrutássemos do Seu amor eterno. Ele assumiu o nosso desamparo.

O bispo Ryle vai dizer: *“o significado pleno desse grito não pode ser penetrado. Mas certamente sua base não se encontra primariamente no sofrimento físico, no fato de que Jesus, por um momento, foi feito pecado por nós (II Cor. 5:21); e ao pagar a penalidade como substituto de pecador, foi amaldiçoado por Deus (Gal.3:13). Deus, na qualidade de Pai, não o abandonou (Lc. 23:46); mas na qualidade de Juiz, tinha de separar-se dele para que experimentasse a morte no lugar do homem pecador.”*

Mas a cruz é a perfeita expressão da santidade, como do julgamento. Cristo não estava somente confessando/assumindo o pecado humano; estava também confessando a santidade de Deus e revelando-a. Há somente uma coisa que pode satisfazer a santidade de Deus: a santidade. A única adequada confissão de um Deus santo é um homem perfeitamente santo. Isso significa que a santidade da cruz é mais importante do que sua dor. Deus não se satifaz com a dor ou morte como tais, senão somente com a santidade. O instrumento da expiação não é o sofrimento, mas a santidade e obediência do Filho divino.

O desamparo não foi um abandono, no sentido de uma ruptura definitiva de relações. Na realidade foi uma aceitação do que Jesus fizera. O desamparo vivido por Cristo foi o grande momento da aceitação de seu sacrifício que nos incluiria.

A palavra pecado no hebraico *Hattat* tem um duplo significado, o pecado em si, a ofensa humana, e a oferta pelo pecado, a redenção, o ato divino. Jesus não era pecador, por isso, o Pai o tonou oferta pelo nosso pecado. A oferta pelo pecado tinha de ser pura. O Hattat por excelência tinha que ser sem Hattat. O que Paulo diz em II Cor. 5:21 poderíamos parafrasear assim: *“Aquele que não praticou Hattat, Deus o fez Hattat por nós, para que fôssemos feitos *Tsadiq* (o homem a quem Deus não imputa pecado)*.

Notemos que na cruz o Senhor Jesus quando deu este brado de desamparo, chama meu Deus. Antes sempre se referia a Deus como Pai, mas agora é meu Deus. Aqui não houve um abandono sentido, mas real. Calvino foi direto ao afirmar: *“Se Cristo tivesse enfrentado apenas a morte física, isso teria sido inútil. Se a alma dele não vesse sido afetada pelo castigo, seria somente salvação de corpos”*. Por consequência, *“Ele pagou um preço muito maior e mais elevado ao sofre os terríveis tormentos de um homem condenado e abandonado”.*

A ocultação da face do Pai era o gole mais amargo do cálice de tristeza que ele decidiu beber.

Ele sofreu apenas como homem ou como Deus também? Poderia gastar muito tempo neste assunto, mas foi resumir assim: *Sofreu como Deus/homem*. Deixo para os amados o desenrolar desta afirmativa.

O clamor de Jesus na cruz - *Eloí, Eloí, lamá sabactâni?*, teve como resposta o silencio de Deus.

Dois mil anos antes, na mesma região, Moriá, Abraão, na sua angústia e carregado de perguntas ao subir o monte para sacrificar seu filho, teve como resposta a voz de Deus – *Não toque no rapaz. Não lhe faça nada.*. Mas a voz proferida em Moriá estava agora silenciosa no Calvário. *Daria um ótimo sermão*.

Mas por que o Filho foi abandonado pelo Pai? A resposta está no Sl. 22:3 *“Porém tu és santo, tu que habitas entre os louvores de Israel”*.

O Pai abandonou o Filho porque sua santidade o exigia. Esse abandono foi temporário e passageiro, pois na mesma cena do Calvário Lucas vai dizer que Ele disse: *“E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou”*.

Seu último brado foi a eterna afirmação que Deus era seu Pai.

O drama do Calvário revela a hediondez do pecado, a santidade de Deus e a plena manifestação do seu amor.

Que o Senhor nos ajude a valorizarmos cada dia mais a obra do Calvário e a Graça de Deus.

 Soli Deo Gloria

 Pr. Luiz Fernando R. de Souza

 

 

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