Mudar é o sonho mais profundo do coração humano. Todos gostaríamos de nos tornar alguém novo. É também a grande promessa do evangelho — que Jesus faz novas todas as coisas.
Com o ano se transformando
gradualmente num ano novo, o mundo todo está capturado pelo sonho de mudança.
De certa forma, isto é maravilhoso. Há graça comum em um calendário que
regularmente nos apresenta oportunidades de reconsiderar como vivemos. A
enxurrada de resoluções feitas nesta época do ano nos lembra que realmente
ansiamos por ser renovados.
Mas há também um lado
sombrio. Desperdiçamos este desejo redentor de sermos renovados em resoluções
que não têm poder para nos mudar. Nesta semana, muitos de nós faremos
resoluções ambiciosas e radicais; e em menos de um mês nossa amnésia coletiva
se instalará. Nossas esperanças serão discretamente descartadas, e nossa
notável capacidade de esquecer será a única coisa que nos livrará do
constrangimento de tudo isso.
Portanto, aqui está um
desafio para o próximo ano: não faça resoluções — crie hábitos.
Ao contrário das
resoluções, nós realmente nos tornamos nossos hábitos. Não há vidas
transformadas sem hábitos mudados. E se quisermos realmente mudar, necessitamos
olhar sobriamente em que direção nossos hábitos estão nos levando.
O Poder dos Hábitos
Os hábitos formam quem
somos, porque os hábitos são pequenas liturgias de adoração.
Reflita sobre isto. Um
hábito é algo que fazemos repetidas vezes sem perceber. Nós acordamos e
acessamos o Instagram. Parados no semáforo, checamos nossas mensagens.
Recebemos um e-mail de trabalho polêmico e verificamos as manchetes dos
jornais, ao invés de encarar a tarefa.
Pode ser que fiquemos
vagamente irritados com essas coisas, mas provavelmente não as consideramos
como profundamente formativas. Estamos terrivelmente enganados.
Na raiz de cada uma destas
pequenas liturgias está a busca por algo fundamental — nossos olhos buscam nas
fotos uma visão da boa vida; no semáforo temos um comichão por conexões com
outros seres humanos; nos momentos difíceis de trabalho, percebemos que
preferimos nos entorpecer com a distração do que enfrentar a dor da vida em si
mesma.
O homem foi feito para
adorar, portanto não conseguimos parar de adorar. Jamais. E sob cada um destes
pequenos momentos, ordinários e tremendamente poderosos, há um hábito de
adoração. Em um mundo onde novos hábitos tecnológicos estão surgindo em todos
os aspectos de nossas vidas, não fazer nada é, na verdade, fazer algo
extraordinário. É se submeter a uma ordem moderna estranha e desfigurada de
adoração.
Isso nos confronta com um
problema: se desejamos ser treinados no amor de Deus e ao próximo, necessitamos
controlar nossos hábitos.
Problema Moderno, Solução Antiga
Por milênios, comunidades
de cristãos se comprometeram com os padrões comuns do hábito como forma de
resistir à conformação a hábitos culturais, e seguir a conformação no amor a
Deus e ao próximo. Esta prática tem vários nomes e formas, mas no contexto
monástico esses programas comunais de hábito foram às vezes chamados de “regra
de vida”.
Alguns acham que estas
práticas são legalistas. Isso é compreensível, porque se tentássemos cultivar
hábitos para ganhar o amor de Deus, elas seriam legalistas. Mas quando estamos
tão enamorados com o amor de Deus que decidimos ordenar cada parte de nossas
vidas de acordo com este amor — isto é simplesmente responder à beleza de nosso
Salvador. Hábitos à frente do amor é legalismo. Mas o amor à frente dos hábitos
é a lógica da graça.
O fascinante sobre o nosso
momento atual é que já estamos adotando semiconscientemente uma nova regra de
vida. Mas esta nova regra de vida não é projetada por aqueles que se preocupam
com nossa conformação à imagem de Cristo — ela é projetada por empresas que
querem atrair a nossa atenção e vendê-la para os anunciantes. Não fazer nada é
adotar uma regra de vida competitiva que está tentando fazer com que creiamos
que somos amados por causa daquilo que compramos, publicamos, lemos, realizamos
ou pensamos. Não fazer nada é nos submetermos a uma regra de vida que tenta nos
convencer a desistir da beleza do evangelho.
Precisamos acordar
urgentemente. Existe uma maneira melhor, e se situa na elaboração de uma regra
de vida que usa hábitos comuns para nos educar no evangelho.
Não necessitamos de novas
resoluções — necessitamos de uma regra de vida melhor. Necessitamos de hábitos
de formação contrária que invadam todas as horas dos nossos dias, nossos ritmos
de trabalho e nossos padrões de vida comunitária. Necessitamos de pequenos
hábitos que nos apontem para o evangelho de Jesus em momentos grandes e
pequenos.
É por isso que convido as
comunidades a tentarem a Regra Comum.
Adote a Regra de Vida Comum
A Regra Comum é um padrão
comum de quatro hábitos diários e quatro semanais, destinados a combater o caos
da nossa moderna vida tecnológica. Destina-se a ser feita com outras pessoas, e
é projetada para levar a vida comum em direção ao amor a Deus e ao próximo.
[Nota do editor: Os seguintes pontos foram traduzidos sobre
a Regra Comum.]
Os hábitos diários são:
- Ler as Escrituras antes de ligar o
celular.
- Desligar o celular durante uma hora
para estar presente com os ao seu redor.
- Comer uma refeição na mesa com a sua
família ou amigos.
- Ajoelhar três vezes no dia para
orar.
Os hábitos semanais são:
- Uma hora de conversas intencionais
com amigos.
- Abstenha de alguma coisa, pode ser
comida ou algum conforto, por 24 horas. Isto ajuda a colocar o seu foco em
servir Deus e outros.
- Gasta só quatro horas nas mídias
sociais.
- Pratique o descanso do sábado.
Estes hábitos visam
interromper os padrões de conformação cultural que atualmente moldam nossas
vidas, e introduzem hábitos que nos levam à comunhão, à presença e à crença no
evangelho mais profundamente.
Portanto, aqui está o desafio: não faça nenhuma resolução este ano. Em vez disso, encontre alguns amigos em sua igreja ou pequeno grupo e passe os primeiros 31 dias de janeiro cultivando alguns dos hábitos da Regra Comum.
Pr. Justin Whitmel Earley
Traduzido por Victor Santana - Coalizão Pelo Evangelho
Muito bom o texto. Grande abraço e excelente 2021 pra você e os seus.
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