21 junho 2012

A MORTE DO E NO PÚLPITO





O púlpito sempre foi instrumento de Deus para alimentar seus filhos e ensiná-los a praticar Sua Palavra. A igreja sempre contou em seu rol de pregadores com homens muito capacitados que elevaram o padrão de exposição da Palavra e honraram a Cristo com pregações estritamente bíblicas e cristocêntricas. Milhares de homens se dobraram diante daqueles que assumiram seus púlpitos no poder do Espirito Santo e através de suas pregações trouxeram Deus para a ambiência eclesiástica, gerando muitas vezes o pavor e o temor de um encontro com o Criador face a face. Jonathan Edwards lia seus sermões à luz de velas e aqueles que o ouviam tremiam diante das suas mensagens. Charles Haddon Spurgeon ficou mais conhecido que o primeiro ministro inglês do seu tempo.
A igreja moderna e principalmente a brasileira vem sofrendo com ausência e mesmo inadimplência de seus pregadores. Aqui não coloco todos no mesmo saco e faço sim diferença entre aqueles que ainda trabalham na arte da pregação e o fazem com esmero, zelo e prontidão. Parabenizo aqueles que se dedicam a tal tarefa com preparo, consciência e fidelidade à Palavra. Mas infelizmente vemos um número cada vez maior de pregadores totalmente despreparados e que aviltam a Palavra não a honrando como Palavra de Deus. Homens que aboliram os estudos sistemáticos e a leitura da Bíblia como referência de seus sermões.
Hoje em dia o púlpito foi substituído em muitas igrejas e passou a ser o altar dos levitas e adoradores dos sacrifícios financeiros (doutrina das sementes de Mike Murdoke e seus correlatos) que tomaram conta do altar. Tem-se em consideração que o ato de servir no púlpito é para aquele que começa a falar qualquer coisa ou mesmo grita numa explosão de histeria. Gostaria de apontar algumas causas que levam à morte do e no púlpito no meio evangélico. Com certeza as causas aqui apontadas não têm a pretensão de serem finais e exaustivas, mas um incentivo para que outros estendam estes pensamentos.
1.      Púlpitos Fracos Implicam em Fraca Espiritualidade Nos Membros das Igrejas.

Não existe qualquer compatibilidade entre púlpitos fracos e uma igreja espiritualmente sadia. Ambos se excluem mutuamente. Uma igreja em que seus pregadores se mostram preparados e cheios do Espirito Santo são instrumentos poderosos de Deus para seu fortalecimento. Creio que um percentual elevado de igrejas esteja morrendo de inanição espiritual por lhes faltarem púlpitos fortes e comprometidos com a Palavra. Por mais que uma pregação se mostre espiritual e poderosa se for não cristocêntrica não passará de um metal que soa ou como o sino que tine. E. M. Bounds disse em seu livro Poder Através da Oração: “Pregadores mortos tiram de si sermões mortos e sermões mortos matam”.
Precisamos resgatar o antigo conceito de Spurgeon que dizia que no púlpito os homens devem trovejar a Palavra de Deus e abalar a segurança dos acomodados. Quando um pastor subir para pregar em um púlpito a congregação deveria admirar e ansiar por este momento. Mas o que temos visto em vários locais são pastores que cumprem suas obrigações e sobem vazios em seus púlpitos e descem de lá murchos. Nossas igrejas precisam de reavivamento e este está intimamente ligado ao púlpito. Uma igreja quase nunca ultrapassará a estatura de seu pastor e púlpito.
Louvores nunca substituirão a pregação da Palavra, mas a geração de hoje comprou a ideia que se houver louvor pode ficar sem a pregação da Palavra.

2.      O Desprezo Pelo Preparo das Pregações.

Há uma geração de pregadores que entende que pregar é somente subir a um púlpito e abrir a boca que Deus falará através deles, como se esforço em estudar e preparar um sermão fosse incompatível com unção do Espírito Santo. Como se o Espírito Santo não utilizasse o preparo como ferramenta em suas mãos. Mas a grande verdade é que encontramos um numero cada vez maior de pastores e pregadores que cultivam em alta escala a preguiça e se escondem atrás de uma pseudo-espiritualidade. John Stott usou uma ilustração para desmascarar essa preguiça e inadimplência nos púlpitos. Ele contou uma história de um superintendente de uma denominação que apareceu de repente em uma igreja. O pastor quando o viu foi até ele e disse o seguinte: “Eu fiz um voto de depender exclusivamente do Espirito Santo em minhas pregações e por isso deixei de preparar meus sermões como fazia tempos atrás. No meio do sermão o superintendente saiu da igreja. O pastor terminou rapidamente o sermão e foi atrás do seu superior e não o encontrou. Entrou no gabinete pastoral preocupado com o ocorrido e para sua surpresa encontrou um bilhete que dizia assim: Volte a preparar seus sermões eu o absolvo do seu voto”. Outro pregador gabava-se de gastar o mesmo tempo de deslocamento de sua casa até a igreja para preparar seus sermões. Ele morava nos fundos da igreja. Cansados de sermões pobres os diáconos juntamente com a diretoria da igreja compraram uma casa pastoral a 20 km da igreja.
Nunca tivemos tantos livros traduzidos e produzidos no Brasil como hoje. Obras antes inacessíveis aos pastores hoje são entregue em suas casas pelos distribuidores. Mas tenho encontrado pouquíssimos pastores frequentando livrarias evangélicas aqui em Belo Horizonte. Tenho visto sim pastores totalmente desatualizados e descontextualizados, alheios às tendências teológicas. Alguns anos atrás perguntei a um pastor amigo quanto tempo fazia que ele havia lido o último livro de teologia. Ele me disse com grande tranquilidade que havia 29 anos que lera um livro de teologia. Como pregar com segurança se se desconhece os conceitos e definições de teologia? Não é raro encontramos pastores citando datas, eventos, nomes etc. erroneamente em seus sermões, pois não estudaram o suficiente. Isso se constitui em uma vergonha para a igreja.
Pastor precisa conhecer o mínimo das línguas originais. Precisa possuir uma boa biblioteca onde encontrará material suficiente para preparar seus sermões. Precisa gerenciar melhor seu tempo para se dedicar às diversas leituras e principalmente à leitura da Palavra. Precisa praticar as disciplinas espirituais que o levarão mais perto do trono do Altíssimo, para que quando subir no púlpito de sua igreja ele seja boca de Deus.

3.      Excesso de Pragmatismo.

Há pouco escutei um pregador neopentecostal afirmar que em um culto uma pessoa endemoninhada correu para agredir alguém enquanto ele, o pregador, pregava. Ele não tinha como deter o agressor, então disse: “Que haja uma muralha de fogo entre os dois”. Então o pretenso endemoninhado parou estático mediante sua fala. Ele concluiu dizendo: “Irmãos, não está na Bíblia, mas funciona”. Isso é pragmatismo elevado à enésima potência. Absurdo dos absurdos. Para muitos líderes se funciona deve ser bíblico e espiritual. Não importam se as praticas não encontram respaldo escriturístico. Não se incomodam se as praticas contradizem a Palavra de Deus.  Já sacrificaram a Palavra no altar do pragmatismo há muito tempo. Mas a grande contradição é que pastores devem ser homens da Palavra. São Jerônimo, um grande doutor da Igreja, que dedicou uma parte da sua vida ao trabalho de revisar as traduções (latim) das Sagradas Escrituras. Ele era apaixonado pelas Sagradas Escrituras, e iluminado pelo Espírito Santo para efetivar este árduo serviço a Igreja e a humanidade, dizia: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo!”.
Creio que esta historia refere-se a Rui Barbosa. Rui Barbosa (um dos homens mais brilhantes do período inicial da Republica Brasileira) disse ao seu empregado: “Traga-me o livro!”. O rapaz foi e providenciou um dos livros de cabeceira do patrão, que logo interrompeu dizendo novamente: “não, esse não, traga-me o livro!”. Depois de uma e outra tentativa, o grande intelectual brasileiro teve de explicar: “Traga-me a Bíblia, pois os outros livros são livros, mas a Bíblia é o livro dos livros!”.
Toda prática que não tiver seus alicerces na Palavra deverá ser expurgada de nosso meio. Não interessa se dá resultado ou não. Feriu a Palavra não deve encontrar apoio em nosso meio.
Precisamos como pastores abandonar a prática espúria de pregamos sobre a Palavra e não pregarmos a Palavra. Precisamos como pastores enfatizarmos a Bíblia em nossas congregações, pois somente assim teremos uma igreja vigorosa e sadia para enfrentar essa onda avassaladora de heresias e idolatria que varre a igreja nos dias atuais.
Quando falta pregação com unção do alto encontramos expressões chulas. Muitos pregadores dizem: “Quanto mais glória ai no meio do povo, mais a gloria do céu desce”. Nossos cultos estão impregnados de sensacionalismo e emocionalismo. Se não houver profecia estática o culto não foi benção e a igreja é muito fria. Se não tiver muito choro, arrepios e outras coisas mais Deus não se manifestou. Não estou dizendo que nossos cultos sejam desprovidos de sentimento e emoção, mas que essas coisas não podem constituir o centro do culto. Muitas vezes sairemos dos cultos com a sensação que precisamos confessar pecados, consertar relacionamentos e vivermos mais a Palavra. Creio firmemente que quando o Senhor se manifesta em uma de nossas reuniões dificilmente nos comportaremos como pedras de gelo. Antes pelo contrário, cada célula de nosso organismo será sacudida pela presença do Santo.


4.      O Impasse Entre Pastor/Mestre e Pregador/Estrela.

A principal função do pastor e instruir os membros de sua igreja na Palavra. Hoje encontramos astros e estrelas gospel fazendo do púlpito um picadeiro. Chamam mais atenção para si mais do que para a Palavra. São astros na constelação gospel. Nos dizeres de Spurgeon tais pregadores divertem bodes, mas não pastoreiam ovelhas. Fazem o povo rir e anunciam-lhes exatamente aquilo que querem ouvir. Afagam-lhes o ego e satisfazem seus desejos mundanos. Paulo nos diz que chegariam tempos onde os homens buscariam doutores conforme suas necessidades. Quando o pastor se apossa do púlpito e transmite a Palavra certamente causará espanto em muitos e perderá alguns membros de sua igreja, mas impactará as almas sedentas de Deus e lhes proporcionará água limpa e cristalina para suas sedes.
O púlpito morre quando a Estrela sai de cena e entram as estrelas impondo sobre os cristãos seus carismas e suas pessoas.
Quando se valoriza mais as reações sensoriais do que a Palavra então o sermão expositivo, que foi marca da igreja durante séculos, deixa de ser praticado e a igreja fica desnutrida e anêmica. Deus usa sua Palavra para salvar, dar crescimento e sustentar o homem. Nada, além disso. Pregador que muda o tom de voz para impressionar, que utiliza de visões de demônios para chamar atenção da congregação, que excita o povo a gritar e pular loucamente, é irresponsável e merece nosso desprezo.
Instrução na Palavra sustentará a igreja na hora da angustia que está para chegar. O pastor/mestre será fundamental diante das anomalias que se aproximam. Feliz da igreja onde o dom de Pastor/Mestre se faz presente.

Creio firmemente que púlpitos fortes e pregações e pastores bíblicos serão instrumentos de Deus, como sempre foram, para trazer a igreja de volta para o caminho de santidade e vida.

Soli Deo Gloria

Pr. Luiz Fernando R. de Souza



08 junho 2012

Refutação Bíblica a palavra do Silas Malafaia sobre "Uma Vida de Prosperidade"

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Recentemente, o tele-pastor Silas Malafaia veio a público desafiar os "blogueiros, críticos de meia-tigela e sites de bandidos travestidos de evangélicos... quem planta notícia em internet, invejosos, caluniadores..." [1], a mostrar biblicamente onde é que se encontram as falhas teológicas de sua pregação sobre a teologia da prosperidade, que “ele prega e crê” [2].

Talvez o título dessa postagem fosse mais conveniente com a frase: Ensinando Silas Malafaia a deixar a colher e comer de garfo! Seria uma resposta a própria afirmação dele de que, quem o critica “come de colher e quer ensiná-lo a comer de garfo”. Porém, não posso deixar de lado o que a Bíblia diz em 1 Pedro 3.14-17: 
“Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom? Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem aventurados sois, Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados, Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pede razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo, porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal.” (negrito meu)
A primeira parte de sua pregação - com base na teologia da prosperidade - denominada “uma vida de prosperidade”, foi ao ar no último sábado, dia 2 de maio de 2012. Veja abaixo:


É de conhecimento de todos que, há alguns anos o tele-pastor desvirtuou-se de sua posição clássica contrária aos modismos e heresias, inclusive que ele mesmo criticava e condenava [3], para aderir à perniciosa teologia da prosperidade. Com isso, o mesmo vem promovendo uma série de distorções bíblicas e heresias gravíssimas, além de abrir a porta para pregadores heréticos da tal teologia mercantilista vindos de outros países. Basta pesquisar aqui no blog para constatar que existem inúmeros artigos de refutação e denúncias das práticas anti-bíblicas de Silas. Inclusive, destaco um ótimo resumo crítico que foi publicado recentemente no Púlpito Cristão, no qual você pode ver aqui!
Embora Silas Malafaia tenha feito o desafio com um tom ofensivo de deboche e covardia, eu farei a refutação de sua palavra supra-citada não pelo desafio em si, mas pelo dever em defender o evangelho, aja visto ter detectado em sua pregação várias distorções bíblicas e conclusões errôneas feitas pelo tele-pastor, referentes ao que ele defende. Portanto, para ser mais direto e categórico, vou me conter em refutar somente a pregação do Silas Malafaia neste programa específico, onde ele desafia os blogueiros (dos quais incluo-me). 
Em sua pregação, para começar ele cita três pontos que serão abordados: o que é a oferta, características de um ofertante e o resultado na vida do ofertante. Silas utiliza 2Co 9.1-15 de uma maneira desconexa e fragmentada, utilizando somente de alguns versículos desta passagem para fazer a sua defesa da teologia da prosperidade, algo normal de uma pessoa que prega tal conceito, pois não há o costume de utilizar uma pregação expositiva equilibrada. Ele ainda afirma que esta passagem é o “melhor compêndio no Novo Testamento sobre o assunto". 
Porém, ao sair do círculo fechado e fragmentado que Silas arma em torno de 2Co 9.1-15, afirmando a prosperidade financeira como recompensa para todos os crentes que ofertam, não tem como ignorar todo o contexto bíblico que trata de dinheiro, principalmente as passagens que afirmam o contrário do que Silas defende. Como harmonizar, por exemplo, a sementeira e a colheita de 2Co 9 com esta outra passagem que diz “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” (I Tm 6.8-10, ARA) ? 
O que dizer então das palavras do Mestre: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” (Mt 6.19-24, ARA ) ?
Enquanto uma passagem supostamente afirma (segundo Silas) que podemos ofertar com a promessa de prosperidade financeira plena, outras afirmam exatamente o contrário, que não devemos enfatizar a prosperidade financeira! Tem alguma coisa errada aí! Será que Silas Malafaia está pregando algo correto à luz do contexto bíblico? Será que Deus ficaria preso na condição de obrigação em recompensar financeiramente quem oferta?
2Co 9.1-15 pode ser o “melhor compêndio” sobre o assunto conforme ele afirma, porém não é o único, principalmente no Novo Testamento! Não se pode interpretar uma passagem isolada de outras que tratam do mesmo assunto (regra básica de hermenêutica).
Quando desfragmentamos os versículos isolados que Silas utiliza e analisamos a luz do contexto imediato desta passagem, veremos facilmente que o foco de Paulo não é a prosperidade financeira para os crentes em resposta ao ato de ofertar, mas sim a necessidade de ajudar financeiramente - com alegria e deliberadamente - os irmãos mais pobres. Paulo usa como exemplo aos Coríntios (uma igreja com membros financeiramente estáveis) de como os irmãos macedônios foram generosos nas ofertas enviadas à igreja de Jerusalém. Mesmo com sérias limitações financeiras (profunda pobreza, 2Co 8.2) eles tiveram alegria em ajudar os irmãos pobres. Este exemplo deve ser aplicado a nós nos dias de hoje com total significância. Porém, não com o objetivo de barganhar com Deus, esperando algo em troca.
Uma pergunta que devemos fazer: será que as ofertas e desafios financeiros que, tanto Silas Malafaia, quanto os demais tele-pastores fazem em seus programas são destinados aos pobres da Igreja? Não, pois eles categoricamente afirmam qual é o destino do dinheiro doado em suas coletas: sustentar os programas de TV (valores milionários), viagens nacionais e internacionais, mega-cruzadas caríssimas, jatinho particular etc. Posso estar errado, mas eu nunca vi Silas fazendo um desafio financeiro para ajudar os pobres da Igreja. 
Continuando a análise ao vídeo, Silas comete outro erro grave: ao citar 2Co 9.4, ele afirma que “a oferta tem sólida base no mundo espiritual”. Para chegar a esta conclusão, ele utiliza a tradução bíblica Almeida Corrigida Fiel onde diz na parte final “...firme fundamento de glória”[4]. Porém, ao analisar melhor outras traduções da bíblia (inclusive o grego original), bem como o contexto direto (vs 1 a 5), veremos exatamente o que Paulo afirma: “Não tenho necessidade de escrever-lhes a respeito dessa assistência aos santos. Reconheço a sua disposição em ajudar e já mostrei aos macedônios o orgulho que tenho de vocês, dizendo-lhes que, desde o ano passado, vocês da Acaia estavam prontos a contribuir; e a dedicação de vocês motivou a muitos. Contudo, estou enviando os irmãos para que o orgulho que temos de vocês a esse respeito não seja em vão, mas que vocês estejam preparados, como eu disse que estariam, a fim de que, se alguns macedônios forem comigo e os encontrarem despreparados, nós, para não mencionar vocês, não fiquemos envergonhados por tanta confiança que tivemos.”(NVI, grifo meu)
Portanto, concluímos facilmente duas coisas: primeiro, que não se deve fazer uma exegese profunda em um texto bíblico considerando somente uma tradução da bíblia; segundo, que a passagem em si não há, absolutamente, nada de super sobrenatural como Silas afirma, mas a passagem narra a demonstração de confiança e orgulho que Paulo tinha pelos crentes de Corinto, na certeza dos mesmos ajudarem através das ofertas os irmãos pobres da Judéia, conforme fizeram os irmãos da Macedônia. 
Mais um erro teológico de Silas: Ele cita, estranhamente de forma fragmentada parte de 2Co 9.5, onde diz “...e preparassem de antemão a vossa bênção” [negrito meu], afirmando que a palavra “benção” nesta passagem significa “um meio de receber favor Divino e meio de felicidade”. Ou seja, segundo Silas, em resposta a oferta haverá uma ação direta de Deus em abençoar os ofertantes! Isto é uma distorção forçada do texto, pois no contexto direto a palavra benção está direcionada a uma ação direta dos ofertantes aos que receberiam as ofertas! Embora reconheça que Deus pode, segundo a vontade Dele, abençoar a vida financeira de quem ajuda, não é o que este versículo em si afirma. Os “abençoados” são os que recebem as ofertas e não os que ofertam!
Veja a mesma passagem em outra tradução: “...concluam os preparativos para a contribuição que vocês prometeram. Então ela estará pronta como oferta generosa, e não como algo dado com avareza.” (NVI, negrito meu) No original grego, a palavra utilizada é eulogia (benção), empregada neste contexto como "generosidade" [5]. Lembrando que o significado da palavra “benção” é variável, no caso desta passagem se enquadra na definição de “expressão ou gesto com que se abençoa. Benefício, favor especial.” [6]
Continuando, Silas cita 2Co 9.10 “Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, e pão para comer, também multiplicará a vossa sementeira, e aumentará os frutos da vossa justiça”, afirmando que Deus nos dá a semente para ofertar. Está correto! Afinal, Deus é o provedor de tudo, o homem não dá do que é propriamente seu, e sim daquilo que Deus lhe tem dado (veja At 17.25). Mas, para quê serve esta semente que Deus nos dá? Para sustentar ministérios milionários de tele-pastores que cada vez mais ficam ricos para esbanjar “prosperidade”, em troca de uma suposta benção financeira sobrenatural? Não! 
A semente que provém de Deus é para ajudar os pobres da igreja para que todos sejam abençoados e Deus seja glorificado! Veja o contexto direto no versículo 9: “Como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre” (ACF, negrito meu), uma citação que Paulo faz de Salmos 112.9 para mostrar que a generosidade à quem precisa é característica de todo Cristão. Deus abençoa a nossa vida para “aumentar os frutos da nossa justiça”(vs9), para “toda a generosidade”(vs11) e para “suprir as necessidades dos santos” (vs10). Ou seja, Deus pode, segundo a vontade Dele, prover em nossas vidas quando ajudamos os pobres da Igreja, principalmente para aumentar a possibilidade desta ajuda continuar cada vez mais: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1Jo 3.16-17, ARA)
Mais um erro de Silas: Ele cita parte do VS 12 “...porque a administração deste serviço”, para afirmar que a oferta é um serviço para Deus. Logo em seguida, ele cita 1Co 15.58 que diz “que o nosso trabalho não é em vão” para afirmar que, se é um trabalho, Deus vai recompensar. Ainda cita Jr 21.14 que diz “o Senhor recompensará a cada um segundo o fruto das tuas ações”. E termina afirmando que: “se a oferta é um serviço para Deus, Ele vai nos recompensar da mesma forma que alguém trabalha e tem que receber salário.”
Errado Pr. Silas! O contexto de 1Co 15.58 em nenhum momento é formalizado um contrato de trabalho entre nós e Deus com promessa de honorários financeiros, muito pelo contrário, fala da esperança que os Coríntios devem ter no dia da ressurreição para continuarem perseverando na fé, mesmo sob ensinos falsos e várias tentações, sabendo que os esforços para o serviço à Deus nunca será em vão (veja Is 65:17-25). 
Segue o contexto direto da passagem em questão: “Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?  O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.” [1Co 15.50-58, ACF, negrito meu]. 
E sobre Jeremias 21.14, veja o que diz: “Eu vos castigarei segundo o fruto das vossas ações, diz o SENHOR; e acenderei o fogo no seu bosque, que consumirá a tudo o que está em redor dela.” O texto fala de castigo e não de recompensa financeira! Que distorção bíblica grosseira Pastor Silas!
Dando continuidade na análise do vídeo, Silas agora discorre para os resultados na vida de um ofertante. Logo de cara ele afirma que “Deus trabalha com a lei da recompensa”. Para tal afirmativa, ainda divide esta lei em “5 leis que funcionam na vida de um ofertante”. Chamo a atenção para algo gravíssimo: colocar a condição de lei para Deus é neutralizar a onisciência Dele! É afirmar que Deus trabalha somente em troca do nosso dinheiro! Afinal, se temos que cumprir esta lei, Deus também tem o dever de cumpri-la. Estaria Deus amarrado em uma condição humana?
Para a 1ª lei, Silas utiliza 2Co 9.6 afirmando a “lei da semeadura”: “E digo isto: o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará.” Esta passagem está em conexão com todo o contexto direto, no qual já tratamos nesse artigo (veja explicação acima sobre os versos 9 e 10). 
Se esta suposta lei da semeadura financeira funcionasse como Silas afirma, porque existem cristãos pobres que precisam de ajuda da própria Igreja? Falta de fé para ofertar o que não tem? Porque então Paulo organizou esta coleta de ofertas aos Pobres da Judeia, ao invés de fazer um desafio financeiro para eles serem abençoados com a lei da semeadura? Inclusive o próprio Paulo passou por muitas necessidades ( Fp 4.10-20, 2Co 11.27). Porque Jesus se fez pobre durante seu ministério na terra (2 Co 8.9) não tendo sequer aonde reclinar a cabeça (Mt 8.20)? Porque Jesus também disse que dificilmente entraria um rico no reino dos Céus (Mt 19.23-24), e ainda disse para não juntar tesouros na terra, mas nos Céus (Mt 6.19-24)? Estaria Paulo pregando uma teologia contrária à Bíblia e entrando em contradição consigo próprio? Claro que não! A teologia contrária a Bíblia é a que Silas Malafaia tenta defender sem êxito.
Paulo cita esta metáfora baseada na vida agrícola para mostrar que, aquilo que é doado nunca se perde, é semeado. Embora Deus, às vezes, proveja uma colheita generosa no terreno físico, principalmente para aumentar as possibilidades de ajuda aos pobres da Igreja, esse não é o padrão e nem é a promessa do Novo Testamento, muito pelo contrário, veja: 2 Co 8:9, 11:27, Lc 6:20-21, 24:25, Tg 2:5.
Tentando justificar a demora na “colheita” de muitos, Silas ainda faz uma analogia entre o tempo de cumprimento da “lei da semeadura” com as sementes de frutas naturais. Dentre várias frutas, ele cita tamarindo, uma fruta que demora até 60 anos para começar a dar frutos. Com isso, ele justifica que pode demorar muito para alguém receber o pagamento da tal “lei da semeadura”. Ou seja, o que você ofertar, talvez nem receba de Deus nesta vida. Na verdade, trata-se da famosa "desculpa espiritual" dos adeptos da teologia da prosperidade para os que não receberam a sua colheita, mesmo depois de ofertar. Engraçado que na hora dos desafios televisivos é exaustivamente enfatizado que Deus vai nos abençoar, que vamos colher cem vezes mais, que vamos ter uma vida próspera, que vamos pagar nossas contas e ter prosperidade em abundância etc.
Na 2ª lei, Silas cita 2 Co9.7 onde diz “...porque Deus ama a quem dá com alegria”, o que seria a “lei do amor de Deus sobre o ofertante”. Logo após, solta uma pérola histórica: “você não vê Deus usando essa palavra de amor pra salvação” E ainda pede para avisá-lo se alguém souber de outra passagem bíblica que utiliza esta expressão de amor de Deus, pois ele não sabe de tudo da Bíblia. 
Sinceramente, alguém que faz tal afirmação deixa-me mais desconfiado ainda do quanto a pessoa é desprovida de conhecimento Bíblico, veja: Jo 3.16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito para que todo que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (negrito meu) Leia também 1Jo 4.9 e Rm 5.8. 
A 3ª lei, segundo Silas, consta no versículo 8, onde diz: “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra,”(ARA) o que seria a “lei total do favor de Deus, a graça”. Silas afirma – corretamente – que a graça é o favor imerecido, benevolente e amoroso de Deus para o homem. Mas comete um erro gravíssimo afirmando que “a oferta chama a graça de Deus para nós”. Ora, se a graça é um favor imerecido, como pode ser merecido ao mesmo tempo? 
Para piorar, segundo este pensamento Silas afirma que através da oferta nós podemos obter soluções de problemas emocionais, curas e soluções de problemas financeiros. Enfim, erros gravíssimos e infantis que nem um aluno novo de Escola Bíblica dominical confunde.
O versículo em questão não dá margem para esta interpretação incorreta. No verso 8 diz que Deus pode nos abençoar para sermos um instrumento de sua graça, fazendo que tenhamos o suficiente para continuar ajudando os pobres. Quando os santos carentes recebem uma generosa doação de outros crentes, eles reconhecem que Deus é a fonte da generosidade, reconhecendo o dom inefável de Deus (vs 15). E assim eles respondem com ações de graças e louvor a Deus por Sua graça em suas vidas (v. 11). E isto acontece segundo a vontade Dele e não por nosso merecimento. Nós não merecemos e nunca vamos merecer a graça Dele, é Ele quem nos ama e nos concede a sua graça, segundo o Seu querer.
A 4ª lei que Silas cita, segundo 2Co 9.9 é a “lei da multiplicação”, que na verdade é o mesmo que a “lei da semeadura”. Ou seja, a refutação para a 1ª lei serve para esta 4ª lei também.
Enfim, a 5ª lei. Silas cita o verso 11 que diz “para que tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus”, para fundamentar a “lei da abundância”. Com isso, Silas afirma que Deus é um Deus de sobra, sem mesquinharia. 
Obviamente, ele utiliza este argumento para justificar a suposta abundância da teologia da prosperidade. Mas, ao contrário que ele afirma, o que esta passagem mostra é que, quando Deus nos dá uma provisão financeira, mesmo sendo com sobras, não é para o proveito próprio, e sim para ser usada em generosidade aos necessitados, para a glória de Deus. O versículo é claro quando afirma “...para toda a beneficência”(ACF), “para toda generosidade”(ARA). Veja como viviam os convertidos naquela época: “Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.” (At 2.44-45, ARA) Este conceito de abundância financeira é, de fato, o mais claro sinal de avareza na vida de alguém: “Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Mt 12.15, ARA)
Silas ainda cita exemplos do que aconteceu com Adão e Eva no jardim do Éden e a prosperidade de Abraão para afirmar que Deus fará o mesmo com quem ofertar. Isto é um absurdo! Afinal, estes são casos isolados em que Deus agiu com um propósito específico e exclusivo para cumprir os seus planos! Por exemplo: não é porque Deus sustentou o povo no deserto enviando o maná dos céus (Ex 16:35) que ele fará o mesmo hoje da mesma forma conosco. Vai deixar de trabalhar esperando o maná para ver o que acontece!
Para terminar, mostro na Bíblia a verdadeira prosperidade para o Cristão:
"Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia; porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários". (2Co 8.1-3). 
Antigamente, Silas Malafaia concordava que esta passagem nos mostra a verdadeira prosperidade bíblica, veja o que ele disse muitos anos atrás: "Os pobres da Macedônia dividiram o pouco que tinham com os pobres da Judeia. Isto é prosperidade. Prosperidade é você compartilhar com o outro... é viver bem com aquilo que Deus tem te dado... é mesmo você tendo pouco, você ainda tem forças e capacidade de ajudar alguém que está pior do que você." [7]

Fico na esperança de que esse artigo sirva de alerta para todos aqueles que ainda acreditam na teologia da prosperidade, onde infelizmente nos últimos anos muita gente se corrompeu, contaminando-se nas heresias importadas da teologia de Mamon. 
Espero de coração que Silas Malafaia se arrependa verdadeiramente, voltando ao evangelho puro e verdadeiro. Não existe nada mais nobre para um Cristão do que assumir sua condição de pecador e humildemente reconhecer os seus erros para nunca mais praticá-los.
Soli Deo Gloria! 

Ruy Marinho
Fonte: [ Bereianos ]
Notas:
1 – Vídeo onde Silas Malafaia faz o desafio aos blogueiros e sites de notícias com palavras ofensivas: Clique aqui p/ ver!
2 – Idem.
3 – Como a teologia de Malafaia mudou radicalmente em alguns anos: Clique aqui p/ ver!
4 – A Almeida Corrigida e Fiel é baseada no Textus Receptus (ou texto majoritário), onde a interpretação bíblica segue o método de equivalência formal (literal-gramatical-histórico) das palavras nos originais da Bíblia. Sendo assim, há muitas palavras de difícil entendimento devido à literalidade da tradução. Neste caso, é necessária a análise do contexto direto para um claro entendimento, bem como a leitura de outras versões da bíblia em paralelo. Para mais informações, veja aqui.
5 - GINGRICH, F. W.; DANKER, F. W. Léxico do N.T. grego/português. São Paulo: Vida Nova, 2003. pág. 88.
7 - Idem a nota 3.
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